PACIENTE EM TRATAMENTO DE NEOPLASIA MAMÁRIA SEM HIPEREXPERSSÃO HER-2, EVOLUINDO COM CARDIOTOXICIDADE, DISFUNÇÃO VENTRICULAR ESQUERDA SINTOMÁTICA GRAVE, COM DOSES CONVENCIONAIS DE ANTRACICLINA.
Introdução: Quimioterapia para pacientes com câncer de mama é um esquema potencialmente cardiotóxico, sendo de grande importância a identificação precoce e intervenção adequada em pacientes de risco. Estudos preliminares indicam que as chances de desenvolver a complicação ocorrem, mais comumente, quando utilizadas doses altas de antraciclinas (doxorrubicina / epirrubicina), especialmente quando associadas a inibidores HER-2 (trastuzumabe). O presente relato, descreve caso de paciente atendida em Hospital privado, referência em oncologia, na cidade de Belém-Pa, sem hiperexpressão HER-2, utilizando doses padrões de quimioterápicos, que evolui com cardiotoxicidade severa e insuficiência cardíaca sintomática, em inconformidade, aos dados descritos na literatura.
Descrição do caso clínico: J.I.L.M 45 anos, parda, natural de Belém-Pa, sem cardiopatia prévia. Diagnosticada com carcinoma mamário invasivo, submetida há 1 ano à quadrantectomia direita, com quimioterapia (QT) neodjuvante (esquema AC por 4 ciclos – Adriamicina dose total 240 mg/m² e Ciclofosfamida totalizando 2400 mg/m² e posteriormente Paclitaxel por 4 ciclos, totalizando 700 mg/m², com término em janeiro de 2015), Imunohistoquímica: HER-2 escore 1, receptor hormonal positivo e KI 67 10%. Em fevereiro de 2016 realizado mais um ciclo de QT com Paclitaxel 80 mg/m², que não deu continuidade. Após ciclo complementar do taxano, desenvolveu sintomas de congestão pulmonar e edema, evoluindo em classe funcional IV da NYHA. Eletrocardiograma com taquicardia sinusal e padrão de Bloquio de Ramo Esquerdo (BRE) novo.
Ecocardiograma transtorácico revelou disfunção ventricular esquerda (DVE) de grau importante (FEVE 26%). Interrompida a QT e instituído tratamento padrão com enalapril e furosemida, espironolactona e digital. Posteriormente introduzidos carvedilol e ivabradina. Retornos semanais no ambulatório de cardioncologia para ajustes terapêuticos e estabilização clínica. Durante acompanhamento, realizou-se dosagem de biomarcadores (troponina) – negativos. A paciente teve boa evolução clínica, chegando a classe funcional I e reversão da DVE (FEVE 56%), após 6 meses de tratamento específico, que foi mantido por tempo indeterminado, por tratar-se de CTX Tipo I.
Ecocardiograma Inicial 02/03/2016 | Ecocardiograma Final 31/08/2016 |
· AE 45mm
· VE 57/50 mm · FEVE (Simpson) 26% · Disf. Diastólica: pseudonormal. · Mitral: refluxo moderado · Tricúspide: refluxo importante · PAP 50 mmHg |
· AE 36 mm
· VE 57/39 mm · FEVE (Simpson) 56% · Disf. Diastólica Grau I · Mitral: refluxo discreto · Tricúspide: refluxo discreto · Sem sinais sugestivos de HAP |
Resultados e conclusões: Certos efeitos deletérios do tratamento quimioterápico no músculo cardíaco podem determinar impacto significativo na sobrevida, resultando em aumento de morbidade e mortalidade. Dentre as diversas manifestações clínicas da cardiotoxicidade, a mais temida é a DVE, levando a IC sintomática. O desenvolvimento de protocolos, específicos, nas diversas instituições de nossa região, sejam públicas ou privadas, são fundamentais para o manejo adequado dos doentes.
Bibliografia: Kalil Filho R, Hajjar L, Bacal F, Hoff P, et al. I Diretriz Brasileira de Cardio-Oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2011; 96(2 supl.1): 1-52.